Os sinais primários de fertilidade I: Muco Cervical

Agora chegamos em uma das partes mais importantes da percepção da fertilidade, como reconhecer os sinais e identificar o que cada um está querendo nos dizer.


Relembrando o que já vimos nos posts anteriores, os sinais primários de fertilidade são três:
  1. Muco (ou Fluido) cervical
  2. Temperatura basal
  3. Posição do colo do útero
Antes, vamos aprender um pouco mais sobre eles para poder entender como eles sinalizam para nós a nossa fertilidade.



Ao longo do post iremos detalhar esses termos pra ficar bem explicadinho e ninguém ter dúvidas. Uma coisa interessante sobre aprender sobre esses sinais é perceber como sabemos pouco do nosso próprio corpo. Eu sempre achei que esse mudo era sinal de infecção ou inflamação, quando na verdade era algo normal, meu corpo falando comigo.

Nesse post vamos falar do sinal da fertilidade mais fácil de visualizar e observar: o muco cervical.

Muco Cervical
O sinal mais visível dos três, já que entramos em contato com ele quando vamos ao banheiro, trocamos de roupa, ele está lá na calcinha, muitas vezes conseguimos sentir o muco no canal vaginal (sabe aquela sensação de molhada que você tem mesmo sem estar menstruada? pois é). Ele segue um padrão que nos ajuda a reconhecer a mudança hormonal do nosso ciclo. O muco, além da aparência e consistência, tem muito a ver com a sensação vaginal. Essa sensação nos ajuda a perceber a fertilidade. Para quem nunca reparou nessas sensações é parecido com o nosso nariz. Nós conseguimos sentir ele "seco" quando está tudo normal, e quando estamos gripadas podemos perceber ele escorrendo. Com a vagina é a mesma coisa. Essa sensação ajuda a analisar o nível de fertilidade do muco. 
Outra coisa, aprenderemos aqui a diferenciar o muco/fluido cervical de corrimento e isso vai ajudar bastante, pois assim que você perceber uma secreção diferente dos padrões do muco, você saberá imediatamente que algo está errado.
O fluido cervical é para a mulher, o que o sêmen é para o homem. Como os homens são sempre férteis, eles produzem fluidos seminais todos os dias. As mulheres, por outro lado, são férteis apenas alguns dias em torno da ovulação e, portanto, produzem a substância necessária para a alimentação e mobilidade do esperma somente durante esse período. É bastante intuitivo. O esperma requer um meio para viver, mover e prosperar – caso contrário, eles morrerão rapidamente. Uma vez que o esperma viaja do pênis para a vagina, eles precisam de uma substância semelhante para mantê-los vivos. Mas a manutenção do esperma é necessária apenas pelo tempo que o óvulo é liberado. É por isso que as mulheres produzem a substância que se assemelha ao sêmen apenas por alguns dias a cada ciclo.
Em última análise, o fluido cervical possui várias funções-chave. Fornece um meio alcalino para proteger o esperma da acidez da vagina, nutre o esperma, atua como um mecanismo de filtragem e, talvez o mais importante, serve como um meio no qual o esperma pode se mover.
A medida que nos tornamos mais férteis, nos aproximando da ovulação, nosso muco vai se assemelhando ao sêmen, tudo para facilitar a concepção. Da mesma forma, quando a ovulação passa, o muco regride e retorna para o padrão básico de infertilidade.
As observações do muco lhe mostram quando você está mais fértil e oferecem uma boa pista para você saber quando ter relações. Para ter certeza se realmente ovulou e não está mais fértil, você vai precisar fazer um gráfico de sua temperatura basal e observar o aumento da temperatura nele.
A principal vantagem de analisar o muco é a sua capacidade de responder à pergunta: "Estou fértil agora?", que é tão importante quanto a questão: "Quando eu ovulei?", já que não são a mesma dúvida. É possível engravidar sem ter muco cervical? Sim, é possível. Mas torna a jornada muito mais difícil.

Vale lembrar que quem faz uso de AC (anticoncepcional) não vai conseguir observar os fluidos cervicais, já que eles são resultados de variações hormonais durante o ciclo, e o AC inibe a produção hormonal natural do corpo.

Parando a enrolação, vamos para a descrição dos padrões dos fluidos.

Seco (ou Nenhum)
Ocorre após o término da menstruação. Não há fluido nem sensação vaginal. Após alguns dias de secura, você notará um Ponto de Mudança que ocorre quando o estrogênio começa a aumentar, indicando que você agora está começando a se aproximar da ovulação. Será a primeira vez que você poderá perceber o muco após o término da menstruação.
  • Sensação vaginal: seco, nada está acontecendo.
  • Aparência: nadinha. Talvez uma leve umidade quando você tocar, mas que evapora rapidamente.
  • Estica: não, pois não há muco.
  • Sensação nos dedos: leve umidade.
  • O que você vê na calcinha: não aparece nada na calcinha, tudo limpo! 
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Pegajoso (Sticky)
Esse muco varia bastante para cada mulher, o importante é que você notará algum tipo de fluido cervical, mas ele não será "molhado". Pode ser pegajoso, parecendo aquelas gelecas de criança, ou parecendo cola, só que mais rígida. Esse muco não estica ou não estica muito, geralmente é quebradiço. Sua coloração é esbranquiçada ou amarelada. Dos mucos, ele é considerado o menos fértil já que sua consistência dificulta a mobilidade dos espermatozóides e não ajuda na sobrevivência deles. No entanto, se encontrado antes da ovulação, devemos considerar que se está possivelmente fértil.
  • Sensação vaginal: seca ou pegajosa.
  • Aparência: pequenos grumos pegajosos que não esticam ou se quebram com facilidade, esbranquiçados ou amarelados.
  • Estica: não, ou quase nada, quebrando facilmente.
  • Sensação nos dedos: pegajosa, seca, às vezes pastosa.
  • O que você vê na calcinha: área branca ou amarelada que, quando seca, forma uma pequena crosta no tecido que às vezes é difícil de lavar.
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Cremoso (Creamy)
Após um muco pegajoso, aparecerá um fluido mais úmido. Ele terá uma aparência cremosa, parecida com um mingau, um hidratante ou mesmo de farinha misturada com água. Sua coloração é esbranquiçada ou amarelada. Ele estica um pouco, partindo-se após alguns milímetros. A abertura vaginal fica mais úmida já que o fluido cervical está molhado, é considerado um tipo de secreção de transição.
  • Sensação vaginal: ligeiramente úmida, fria, ou nenhuma sensação.
  • Aparência: láctea, turva, e cremosa/pastosa.
  • Estica: um pouco, mas se parte após alguns milímetros.
  • Sensação nos dedos: suave e cremosa.
  • O que você vê na calcinha: área branca ou amarelada que, quando seca, forma uma pequena crosta no tecido que às vezes são difíceis de lavar.
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Aguado (Wattery)
É um fluido cervical mais claro e sua aparência se assemelha a água. Algumas vezes ele pode ser um pouco elástico. Ele é considerado um fluido fértil e geralmente antecede o muco clara de ovo. Algumas mulheres apresentarão apenas esse muco como mais fértil, não chegando a produzir o clara de ovo.
No app Kindara, ele é colocado como mais fértil que o clara de ovo, mas estamos seguindo o livro Taking Charge of Your Fertility, e lá diz que o muco mais fértil será o clara de ovo e algumas outras fontes também confirmam isso. Assim, deixei aqui a explicação do muco aguado para efeito de conhecimento.
  • Sensação vaginal: bastante úmida e fria, de água pingando ou jorrando da vagina.
  • Aparência: clara (transparente) ou leitosa, parecendo água ou leite desnatado.
  • Estica: um pouco, apenas alguns poucos milímetros.
  • Sensação nos dedos: molhada.
  • O que você vê na calcinha: manchas úmidas que molham o tecido, como se você tivesse derramado água na calcinha.
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Clara de ovo (Eggwhite)
É o muco mais fértil e também o mais fácil de identificar porque muitas vezes se assemelha a clara de ovo cru. Ele estica bastante, até 2,5 cm ou mais e não se quebra com facilidade, além de causar uma sensação vaginal lubrificante.
Sua coloração pode ser amarelada, rosada ou avermelhada, e conter algumas "listras" avermelhadas ou brancas, indicando a presença de possível sangramento ovulatório (o que é normal acontecer).
  • Sensação vaginal: escorregadia, lubrificante.
  • Aparência: como clara de ovo cru, é bastante molhada
  • Estica: bastante, de 2,5 cm até mais 
  • Sensação nos dedos: escorregadia e lubrificante, alongando bastante entre os dedos.
  • O que você vê na calcinha: secreção escorregadia e úmida que molha o tecido.
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Aqui, uma pequena tabela comparativa:



Existem inúmeras variações pessoais de fluido cervical e o que aparece para você pode não se enquadrar em nenhuma das descrições da tabela acima. O importante é que você compreenda o conceito dos padrões seco e molhado.
No período entre o fim da menstruação e a ovulação, o muco passa de seco a extremamente lubrificante e molhado, assim, quanto mais molhado e úmido for o muco, mais fértil ele será.

Uma dica é sempre analisar o muco levando em consideração duas coisas: características do muco e sensação vaginal. Também pode-se somar a essa análise, o padrão do muco no tecido da calcinha.

Aqui uma ajuda a mais na hora de identificar os mucos:


No dia posterior a ovulação, o muco regredirá e se tornará seco (nenhum) ou retorna para o seu padrão básico de infertilidade, que pode ser seco ou pegajoso.

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Progressão dos mucos. Clique para ampliar.

Nessa imagem, podemos ver como funciona a relação entre muco cervical e mobilidade dos espermatozóides:


Devemos lembrar que a característica principal do muco mais fértil é sua qualidade escorregadia. A sensação vaginal pode perdurar por um ou dois dias além da presença real do muco mais elástico.
Essa sensação indica que você ainda é extremamente fértil. Claro, a sensação vaginal não deve ser confundida com a lubrificação sexual. A sensação vaginal é algo que você simplesmente sente ao longo do dia, ou se limpar, sem realmente observar nada. No final, a qualidade é mais importante do que a quantidade ao avaliar a fertilidade do fluido cervical. Ou seja, não importa se você percebeu pouco muco clara de ovo, se ele apareceu, você está fértil. Também é possível perceber a presença de dois mucos diferentes no mesmo dia, nesse caso, sempre consideramos o mais fértil.


Abaixo, coloquei um gráfico do método Billings ⎼ que se baseia apenas na observação do muco ⎼ para podermos observar a progressão e análise dos mucos. No Sintotermal, é bem parecido, com diferença que adicionamos a temperatura basal ao gráfico.




Como vimos no post anterior sobre o ciclo menstrual, o muco fértil está relacionado com os altos níveis de estrogênio no corpo, por isso, pouco antes da ovulação, com o pico de estrogênio, temos o muco mais fértil do ciclo e, logo após, temos uma queda abrupta e drástica do estrogênio, isso causará a regressão do muco, ou seja, ele passará de um muco fértil para infértil. Depois da ovulação, com baixo estrogênio no corpo, o muco não fértil volta a "tapar" a entrada do colo do útero, impedindo assim, a entrada de espermatozóides. Eles ficam retidos no canal vaginal e mortos pela acidez da vagina.

Só para fixar: demora alguns dias/semanas para que o muco progrida da qualidade infértil para o de qualidade fértil, mas o contrário acontece em menos de um dia. Essa mudança súbita de muco é como podemos ter a certeza de que o estrogênio caiu e agora predomina a progesterona. 

Uma outra mudança que podemos perceber no ciclo, é já pertinho dele acabar, alguns dias antes da vinda da menstruação, quando temos uma sensação de muita umidade, como se estivéssemos bastante molhadas. Isso acontece porque a progesterona cai e o revestimento do útero (endométrio) começa a se desintegrar, mas a primeira parte que se desintegra é basicamente composta por água (daí a sensação de umidade) e logo depois vem o sangue. Obviamente que esse fluido não é fértil, porque a essa altura o óvulo já se desintegrou.


Sabendo o que é o que
A análise do muco é uma ótima forma de descoberta do nosso corpo e evita estresses desnecessários, mas deve-se ter em mente que existem certos fatores que podem potencialmente encobrir o fluido cervical, como:
  • duchas vaginais;
  • infecções vaginais;
  • fluido seminal (sêmen);
  • lubrificação vaginal;
  • espermicidas e lubrificantes;
  • anti-histamínicos (que podem secr o muco).

Observar os fluidos cervicais também pode ajudar na hora identificar doenças, por exemplo: se você possui um padrão de muco por muito tempo que não muda, geralmente gomosos ou com consistência semelhante a cimento, por mais de duas semanas, pode ser que você possua uma cervicite ou alguma outra doença. Fiquemos atentas ao corrimento vaginal, que vem acompanhado de mal cheiro.
Aqui tem o link de um arquivo muito bom da UFMG que lista várias doenças ginecológicas que produzem corrimentos vaginais como um dos sintomas, só clicar aqui pra ver.

Nesse site você pode encontrar mais fotos e vídeos com vários exemplos de fluidos cervicais pra te ajudar a classificar cada um. Clica aqui.

Temos alguns métodos que se baseiam apenas na observação do muco, como já falei aqui, no entanto, é normal acontecer algumas situações onde você fica na dúvida de como proceder, por isso é interessante acompanhar os outros dois sinais da fertilidade – temperatura e colo do útero – para ter mais confiança no que está realmente acontecendo com o seu corpo.

No próximo post, falaremos sobre a Temperatura Basal. O que é? Qual sua importância? Como medir? Não perca 😉



Fonte:

Ensinando o Método de Ovulação Billings. Disponível em:  http://primeirodom.blogspot.com.br/ 2015/11/ensinando-o-metodo-de-ovulacao-billings_12.html
The Many Faces of Cervical Fluid. Disponível em: https://www.kindara.com/blog/the-many-faces-of-cervical-fluid
Visualizing Changes in Your Cervical Fluid (Cervical Mucus), Tradução de Camila (KK Faria), do grupo MAMIS. Disponível em: http://projetandoumbebe.blogspot.com.br/2017/01/tudo-sobre-muco-cervical-como.html
Weschler, Toni. “Taking Charge of Your Fertility : The Definitive Guide to Natural Birth Control, Pregnancy Achievement, and Reproductive Health (9780062409911).” iBooks. 

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