Saúde Reprodutiva: Fertilidade e Infertilidade


Matrioska. Boneca que faz parte da tradição
russa e simboliza a maternidade, fertilidade,
amor e amizade.

Todos sabemos que mulheres em idade fértil, podem engravidar, já que nosso corpo se prepara mensalmente para a vinda de um bebê. O que a esmagadora maioria não sabe, é que somos férteis apenas por alguns dias durante cada ciclo e inférteis nos demais. Saber quando estamos férteis evitaria muitos problemas e neuras, não é? A notícia boa é que isso é perfeitamente possível, basta acompanhar os sinais do nosso próprio corpo. No método Sintotermal a gente utiliza a Temperatura Basal e o Muco Cervical para determinar o período da nossa ovulação, que é o nosso período fértil. Quem quiser, também pode acompanhar a posição do colo do útero, mas isso é opcional.
Sabendo identificar os sinais de fertilidade que indicam a ovulação, podemos tomar as decisões pertinentes para cada uma, por exemplo: se eu quero engravidar, devo ter relações nesse período; se eu não quero engravidar, devo me abster de ter relações sexuais ou ter relações protegidas (coito interrompido, camisinha, diafragma, etc.). Maravilha, né?

Vocês já perceberam como a responsabilidade da concepção recai apenas sobre as mulheres? Quase a totalidade dos métodos contraceptivos são femininos e causam MUITOS efeitos colaterais, enquanto os métodos masculinos são livres de efeitos adversos. A seguir um comparativo para entendermos melhor:




Se quiser conhecer os métodos, é só clicar no nome de cada um, eu inseri um link explicativo para facilitar a compreensão do assunto).

Em 2016, tivemos a polêmica do anticoncepcional masculino cujo estudo foi interrompido devido aos efeitos colaterais, como: espinhas, mudanças de humor, depressão, diminuição da libido, entre outros bastante conhecidos das mulheres. Sem falar que os contraceptivos femininos ainda aumentam o risco de inflamações, candidíase, trombose, AVC, derrames, câncer de mama e por aí vai.
Cada um dos métodos mencionados acima, possui seus respectivos efeitos colaterais (com algumas exceções, como os métodos naturais e coito interrompido), por isso é importante estudar bem cada um, ler a bula e ver se você está disposta a correr os riscos. Ultimamente, muitas meninas têm relatado casos de trombose e derrames decorrentes de métodos hormonais, chegando a relatos de internações, amputações e até mortes.

Todos esses métodos objetivam impedir uma gravidez não planejada, dando o poder à mulher de escolher quando quer constituir família. Todas as mulheres sexualmente ativas e que desejam evitar uma gravidez, passam por muitos problemas na busca pela prevenção e por isso se dispõem a encarar vários riscos. Mas é bom sabermos como e por quê as coisas acontecem para que possamos entendê-las melhor. 

Por que a gravidez indesejada acontece

Como a autora fala no livro: "para entender o funcionamento dos métodos naturais, precisamos examinar o conceito de gravidez indesejada. Por que acontecem?" Segundo ela existem quatro motivos:
  1. Pessoas não usam contracepção porque estão no "calor do momento";
  2. Falta de conhecimento;
  3. Por que não se identificam com nenhum método; e
  4. Pessoas usam algum método, mas caem na taxa de falha.
A autora nos mostra, logo na sequência, como a percepção da fertilidade pode ajudar em cada caso. Vejamos:

"Calor do momento"
Quando se usa um método de barreira, como camisinha ou diafragma, às vezes ocorre de esquecer de colocar o contraceptivo por estar muito, digamos, distraídx. Outras vezes, o homem não gosta de usar e convence a mulher a fazer sem. Isso somado ao fato de não saber se a mulher está ou não no período fértil, acaba gerando as famosas neuras. Conhecendo sua fertilidade, o "azar não será mais uma desculpa".

Quem já passou pela neura da menstruação atrasada, vai entender rsrs

Falta de Conhecimento
Existem muitos mitos sobre gravidez e contracepção, além disso, nem as próprias mulheres costumam conhecer como acontece o ciclo menstrual. Quando se conhece o processo, temos o poder de escolher quando e como ter relações. Precisamos saber, por exemplo, que um ciclo normal dura de 21 a 35 dias; que os espermatozóides podem sobreviver por até cinco dias quando o muco mais fértil está presente; identificar o período de ovulação para evitar relações ou se proteger com outro método... Nesse caso e em muito outros, conhecimento nunca é demais. Já dizia o ET Bilu.


Falta de identificação com os métodos
Eu falo por mim aqui nesse tópico e acredito que por muitas meninas também, desde o meu problema com a pílula combinada, estou na saga de procura por métodos contraceptivos (clica aqui pra ler o post onde falo sobre isso). Já usei pílula, já usei camisinha, já usei DIU, estou pesquisando sobre o diafragma... confesso que não me agrado muito de nenhum, exceto o DIU que só tirei devido a DIP. Já descartei os métodos hormonais da minha vida, nem cogito mais, agora estou estudando o método Sintotermal e quero aliar a métodos de barreira. 
Aqui vou reproduzir o texto da Toni Whescler sobre isso, para que vocês entendam melhor como eu me sinto:

"Não é de surpreender que a maioria das pessoas ache as escolhas anticoncepcionais de hoje longe do ideal. Além da esterilização, nossas opções incluem alternativas como um método que insere, no corpo da mulher, hormônios não-naturais (a pílula e outros métodos hormonais artificiais); que podem aumentar o risco de adquirir câncer de mama ou osteoporose (Depo-Provera); que envolve a inserção de um implante sob a pele (Implanon); mantém o útero em estado constante de inflamação, às vezes causando cólicas dolorosas (o DIU); preenche a vagina da mulher com uma cúpula de látex que goteja espermicida por pelo menos 24 horas após a relação sexual (diafragma e capuz cervical), é conhecido por causar infecções vaginais (a esponja); cobre completamente o clitóris da mulher (o preservativo feminino), ou coloca uma película de borracha entre os dois indivíduos (o preservativo masculino).
É de admirar que as gravidezes não planejadas ocorram, dada a escolha dos métodos que as pessoas têm como suas únicas opções? Com a percepção da fertilidade, os casais podem experimentar a liberdade de contracepção eficaz sem dispositivos, produtos químicos, ou efeitos colaterais para a maior parte do ciclo."

Taxa de Falha
Quando acontece uma gravidez não planejada, as pessoas perguntam logo "mas por quê você não se cuidou?" Acontece que muita gente se prevenia sim, mas todo método tem sua taxa de falha, mesmo combinando dois ou mais, é possível que aconteça uma gravidez. Conhecendo os sinais de fertilidade, pode-se tomar mais cuidado e saber se realmente há motivo para preocupação quando um método falha. Além disso, há a opção da abstenção sexual no período fértil (e essa é 100% segura rsrs).

E de quem é a responsabilidade pela contracepção?
A algum tempo atrás eu diria que era da mulher, mas hoje, depois de tudo o que já vi sobre o assunto, digo que é do casal. É muito comum jogarmos essa responsabilidade apenas para a mulher, mas vejamos: a mulher é fértil por cerca de uma semana ao mês durante alguns anos, já o homem é fértil a vida toda! Poderíamos ter mais pesquisas de métodos para eles também, não acham? 
O FAM (Fertility Awareness Method, da sigla em inglês para Método de Percepção da Fertilidade) permite algo único: o casal participar junto e ativamente da contracepção. O que propicia também que eles fortaleçam a relação.

Muitas vezes também vemos casais que não conseguem conceber, tirando as causas comprovadas, pode ocorrer de estarem tentando da forma errada, tendo relações fora do período fértil por não saberem reconhecer qual o melhor momento para realizar uma tentativa.

Mais a frente, a autora nos coloca alguns pontos interessantes sobre o por quê de muitos casais acreditarem erroneamente que são inférteis. Vejamos:
  1. A infertilidade é automaticamente presumida se a gravidez não ocorre no período de até um ano. Há outros fatores que influem na fertilidade que podem estar atrapalhando.
  2. Ciclos irregulares são vistos como problema. Isso porque sempre se usa a matemática para definir os ciclos, mas mesmo em mulheres com ciclos irregulares, os sinais de ovulação são os mesmos. A menos que você tenha algum problema hormonal, como a Síndrome dos Ovários Policísticos, para citar um exemplo. 
  3. Médicos ignoram soluções óbvias. Médicos são treinados para identificar e tratar doenças, assim podem pedir centenas de exames e receitar outras centenas de remédios e esquecer de questionar o casal se eles estão tendo relações no período fértil da mulher. Toni, cita alguns exemplos de como pode-se ter relações com frequência e, mesmo assim, não haver fecundação, como em casos onde a mulher possui apenas um dia fértil por ciclo ou quando o homem possui uma contagem baixa de espermatozóides.
  4. Foco apenas na temperatura basal sem considerar o muco cervical. Apesar de a temperatura basal ser primordial para a percepção da fertilidade, ela sozinha pode gerar alguns enganos pois outros fatores podem alterar a temperatura, como ingestão de álcool, poucas horas de sono, até mesmo levantar de madrugada para ir ao banheiro. A mudança de temperatura indica que a ovulação já ocorreu, aí pode ser tarde para algumas pessoas. A chave do método é o muco cervical, ele que mostra a mudança de fertilidade dentro ciclo. Mas vale reforçar a importância da temperatura: indicar se a mulher está ovulando; certificar se a fase lútea é longa o bastante para que o óvulo se fixe no útero; e se a mulher está grávida.
  5. Testes de fertilidade feitos desnecessariamente ou de forma errada. Algumas vezes os testes são feitos fora do período fértil, e dessa forma, é claro que estarão negativos. A autora cita alguns outros testes que são bastante invasivos, e às vezes, dolorosos, que são feitos sem se observar se todos os outros fatores importantes estão em ordem.
  6. Remédios para ovulação são prescritos com muita frequência (como o Clomid). Essas drogas têm como objetivo estimular a ovulação, mas também podem ter efeitos contrários ao objetivo, como secar o muco cervical, fundamental para os espermatozóides.
  7. Resultados alterados em testes de ovulação. Alguns fatores podem influenciar o resultado (veremos isso nos próximos posts).
  8. Algumas vezes a mulher pensa que não está engravidando, quando na verdade ela está tendo abortos. Apesar de ser um grande problema, a resolução é outra, pois aí tem que saber porque os abortos acontecem (o que é bem diferente de não engravidar). Aqui, Toni nos dá informações importantíssimas para identificar uma gravidez em curso. Por exemplo, você precisa ter uma fase lútea (parte do ciclo entre a ovulação e a próxima menstruação) de pelo menos 10 dias para a implantação do óvulo fecundado, e 18 dias seguidos de altas temperaturas após a ovulação para indicar uma gravidez. As razões para que isto ocorra são diversas, podendo ser fase lútea muito curta, baixa taxa de progesterona, presença de pólipo no útero, entre outras. Para cada caso, um tratamento específico.
Qual a importância de saber tudo isso? Quando você tem conhecimento, você tem poder. O poder de saber o que está acontecendo no seu corpo; o poder de escolher melhor entre as opções oferecidas; o poder de conversar com os médicos de forma mais clara e obtendo ainda mais informações sobre a situação; evitar gastos financeiros desnecessários e perda de tempo, são alguns dos benefícios de conhecer os sinais do seu corpo.
Outra grande vantagem de conhecer a percepção da fertilidade, é reconhecer quando algo não vai bem no seu corpo e quando o que você sente faz parte do ciclo. Alguns sintomas que achamos ser doenças, podem ser coisas normais, por exemplo, na ovulação podemos ter "pontadas" em um dos lados do corpo, ou um pequeno escape (sangramento) que fazem parte ciclo. É muito importante reconhecer sintomas até para nos ajudar nas visitas ao médico. Conseguir diferenciar o que é muco cervical e o que é corrimento vaginal (este sim é sinal de perigo à saúde); saber que é normal sentir uma sensação "molhada" na vagina durante o período fértil, pois há mais muco presente, entre outras tantas coisas.

Um aviso importante para quem está estudando métodos de percepção da fertilidade em geral é que eles são recomendados como contraceptivo apenas para casais monogâmicos e dispostos a seguir as regras do método com disciplina, pois eles não protegem contra DSTs.

Bom, deu pra perceber como a falta de conhecimento sobre o nosso corpo pode ser prejudicial para nós, nos levando a ficar preocupadas por motivos errados e até mesmo inexistentes. Mesmo que você não confie no Sintotermal como método contraceptivo, vale a pena investir um tempo de estudo para conhecer o seu corpo e empoderar-se.

A partir do próximo post, vamos começar a aprender nosso corpo (anatomia e particularidades), funcionamento do ciclo menstrual, os sinais da fertilidade e como observar cada um deles.

Espero você ;)



Fonte:

Weschler, Toni. “Taking Charge of Your Fertility : The Definitive Guide to Natural Birth Control, Pregnancy Achievement, and Reproductive Health (9780062409911).” iBooks. 

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